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    ​DISCALCULIA

       Autora: Simaia Sampaio

   

A matemática para algumas pessoas ainda é um bicho de sete cabeças. Muitas crianças passam muito tempo tentando entender qual a operação que deve realizar se adição, subtração, multiplicação ou divisão. Algumas pessoas apresentam dificuldades para compreender os sinais, dificuldades para realizar cálculos mentais, contando com os dedos ou se utilizando de outras estratégias para sua execução.

    Em alguns casos, as dificuldades para compreender um problema matemático ocorrem em função da criança ainda não ter alcançado o nível de pensamento lógico que a habilite a compreender situações que exigem o uso da lógica. Algumas crianças ainda se encontram no nível pré-operatório do pensamento e portanto raciocinando com base em suas percepções e não na lógica.

    Carraher afirma que: “Vários estudos sobre o desenvolvimento da criança mostram que termos quantitativos como “mais”, “menos”, maior”, “menor” etc. são adquiridos gradativamente e, de início, são utilizados apenas no sentido absoluto de “o que tem mais”, “o que é maior” e não no sentido relativo de “ ter mais que” ou “ser maior que”. A compreensão dessas expressões como indicando uma relação ou uma comparação entre duas coisas parece depender da aquisição da capacidade de usar da lógica que é adquirida no estágio das operações concretas” Quando a lógica não está presente, o problema fica sem sentido e a criança passa a adivinhar e não pensar com a lógica. 

    Além do uso da lógica, a compreensão de um problema exige que muitas habilidades estejam presentes, tais como: precisão leitora, fluência na leitura, acesso ao léxico semântico, vocabulário, memória de trabalho, atenção sustentada. Desta forma muitas habilidades precisam ser trabalhadas além do foco específico em treino da matemática.

        De acordo com Johnson e Myklebust, existem alguns distúrbios que poderiam interferir nesta aprendizagem:

  • Distúrbios de memória auditiva:

- A criança não consegue ouvir os enunciados que lhes são passados oralmente, sendo assim, não conseguem guardar os fatos, isto lhe incapacitaria para resolver os problemas matemáticos.

- Problemas de reorganização auditiva: a criança reconhece o número quando ouve, mas tem dificuldade de lembrar do número com rapidez.

  • ​ Distúrbios de leitura: Os dislexos podem apresentar dificuldade em ler o enunciado do problema, mas podem fazer cálculos quando o problema é lido em voz alta. É bom lembrar que os dislexos podem ser excelentes matemáticos, tendo habilidade de visualização em três dimensões, que as ajudam a assimilar conceitos, podendo resolver cálculos mentalmente mesmo sem decompor o cálculo. Podem apresentar dificuldade na leitura do problema, mas não na interpretação.

  • Distúrbios de percepção visual: a criança pode trocar 6 por 9, ou 3 por 8 ou 2 por 5 por exemplo. Por não conseguirem se lembrar da aparência elas têm dificuldade em realizar cálculos.

  • Distúrbios de escrita: Crianças com disgrafia podem apresentar dificuldade de escrever letras e números. Estes problemas podem dificultar a aprendizagem da matemática.

    Em alguns casos as dificuldades são transitórias e são superadas na medida em que a criança vai desenvolvendo o senso numérico, utilizando a lógica e a abstração, mas em outros casos as dificuldades são persistentes. Algumas crianças com muitas dificuldades podem ficar bastante desestimuladas e desmotivadas, e podem ser mal compreendidas e chamadas de preguiçosas ou desinteressadas.

Em alguns casos o problema pode pode estar relacionado a um transtorno específico da matemática mais conhecido como discalculia.

    A discalculia é um dos transtornos específicos de aprendizagem que causa a dificuldade na matemática. Este transtorno não é causado por deficiência mental, nem por déficits visuais ou auditivos, nem por má escolarização.

    O portador da discalculia comete erros diversos na solução de problemas verbais, nas habilidades de contagem, nas habilidades computacionais, na compreensão dos números. Kocs (apud García, 1998) classificou a discalculia em seis subtipos, podendo ocorrer em combinações diferentes e com outros transtornos:

  • Discalculia Verbal - dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações.

  • Discalculia Practognóstica - dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens matematicamente.

  • Discalculia Léxica - Dificuldades na leitura de símbolos matemáticos.

  • Discalculia Gráfica - Dificuldades na escrita de símbolos matemáticos.

  • Discalculia Ideognóstica – Dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos.

  • Discalculia Operacional - Dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos.

 

Na área da neuropsicologia as áreas afetadas são:

  • Áreas terciárias do hemisfério esquerdo que dificulta a leitura e compreensão dos problemas verbais, compreensão de conceitos matemáticos;

  • Lobos frontais dificultando a realização de cálculos mentais rápidos, habilidade de solução de problemas e conceitualização abstrata.

  • Áreas secundárias ociptoparietais esquerdos dificultando a discriminação visual de símbolos matemáticos escritos.

  • Lobo temporal esquerdo dificultando memória de séries, realizações matemáticas básicas.

 

De acordo com Johnson e Myklebust a criança com discalculia é incapaz de:

  • Visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior;

  • Conservar a quantidade: não compreendem que 1 quilo é igual a quatro pacotes de 250 gramas.

  • Sequenciar números: o que vem antes do 11 e depois do 15 – antecessor e sucessor.

  • Classificar números.

  • Compreender os sinais +, - , ÷, ×.

  • Montar operações.

  • Entender os princípios de medida.

  • Lembrar as sequencias dos passos para realizar as operações matemáticas.

  • Estabelecer correspondência um a um: não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras.

  • Contar através dos cardinais e ordinais.

 

Os processos cognitivos envolvidos na discalculia são:

  • Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem;

  • Dificuldade de memória em tarefas não-verbais;

  • Dificuldade na soletração de não-palavras (tarefas de escrita);

  • Não há problemas fonológicos;

  • Dificuldade nas habilidades visuo-espaciais;

  • Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis.

 

    De acordo com o DSM 5, o Transtorno Específico da Matemática caracteriza-se da seguinte forma: A capacidade matemática para a realização de operações aritméticas, cálculo e raciocínio matemático, encontra-se substancialmente inferior à média esperada para a idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo.

    As dificuldades da capacidade matemática apresentadas pelo indivíduo trazem prejuízos significativos em tarefas da vida diária que exigem tal habilidade.

    Em caso de presença de algum déficit sensorial, as dificuldades matemáticas excedem aquelas geralmente a este associadas.

Diversas habilidades podem estar prejudicadas nesse Transtorno, como as habilidades linguísticas (compreensão e nomeação de termos, operações ou conceitos matemáticos, e transposição de problemas escritos em símbolos matemáticos), perceptuais (reconhecimento de símbolos numéricos ou aritméticos, ou agrupamento de objetos em conjuntos), de atenção (copiar números ou cifras, observar sinais de operação), e matemáticas (dar sequência a etapas matemáticas, contar objetos e aprender tabuadas de multiplicação).

 

POSSÍVEIS COMPROMETIMENTOS:

  • Organização espacial;

  • Orientação temporal;

  • Memória;

  • Habilidades grafomotoras;

  • Linguagem/leitura;

  • Impulsividade;

  • Inconsistência (memorização).

  • Auto-estima;

  • Inibição no comportamento ou agitação.

 

AJUDA DO PROFESSOR:

O aluno necessita de atendimento individualizado por parte do professor que deve:

  • Evitar ressaltar as dificuldades do aluno, diferenciando-o dos demais;

  • Evitar demonstrar impaciência com a dificuldade expressada pela criança ou interrompê-la várias vezes ou mesmo tentar adivinhar o que ela quer dizer completando sua fala;

  • Evitar corrigir o aluno frequentemente diante da turma, evitando exposição;

  • Evitar ignorar a criança em sua dificuldade.

 

DICAS PARA PROFESSORES:·        

  • Não force o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter conseguido;

  • Explique a ele suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre que precisar;

  • Proponha jogos na sala;

  • Não corrija as lições destacando os erros com canetas vermelhas;

  • Em alguns casos pode ser necessário liberar o uso da calculadora;

  • Nos casos comórbidos com TDAH, há indicação de realização de prova em local silencioso e com apoio.

 

PROFISSIONAIS:

  • Um psicopedagogo poderá trabalhar com situações e jogos que envolvam habilidades de seriação, classificação, psicomotricidade, habilidades espaciais, contagem, estratégias de cálculos, etc. A intervenção psicopedagógica ajudará no desenvolvimento de uma boa autoestima, descobrindo qual o seu modelo de aprendizagem através de instrumentos que ajudarão em seu entendimento.

  • Nos casos mais graves, recomenda-se pelo menos três sessões semanais, com atendimento individualizado.

  • O uso de jogos de computador é bastante útil. Recomendo o jogo PAM - Programa de Aprendizagem da Matemática de minha autoria que tem auxiliado muitas pessoas de todas as idades na compreensão dos processos da matemática (clique aqui para adquirir)

  • O médico é quem fornece o diagnóstico com base nos critérios do DSM 5, na observação dos relatórios e desempenho escolar e com base nos laudos de avaliação dos profissionais). 

 

O QUE PODE OCORRER COM CRIANÇAS QUE NÃO SÃO TRATADAS PRECOCEMENTE?

  • Comprometimento do desenvolvimento escolar de forma global. O aluno fica inseguro e com medo de novas situações;

  • Baixa auto-estima devido a críticas de pais e colegas e devido ao baixo desempenho;

  • Ao crescer o adolescente / adulto com discalculia pode apresentar dificuldade em utilizar a matemática no seu cotidiano.

  • Pode necessitar de PSICOTERAPIA devido aos sentimentos de insegurança, baixa autoestima, ansiedade ou mesmo depressão.

 

DIFERENÇA ENTRE DISCALCULIA E ACALCULIA

          A discalculia é um transtorno do neurodesenvolvimento, enquanto a acalculia ocorre quando o indivíduo, após sofrer lesão cerebral, como por exemplo um acidente vascular cerebral ou um traumatismo crânio-encefálico, perde as habilidades matemáticas já adquiridas. A perda ocorre em níveis variados para realização de cálculos matemáticos.

 

Devido a uma série de fatores, as crianças podem não gostar da matemática. Professores e pais devem juntos procurar identificar se a criança pode estar com dificuldade em se adaptar à metodologia do professor ou se existem outros fatores que estão acontecendo na vida da criança que possam justificar um desinteresse ou baixo rendimento. Não conseguindo identificar ou sanar as dificuldades é muito importante que uma boa avaliação neuropsicológica e psicopedagógica seja realizada. Na avaliação neuropsicológica serão aplicados testes de inteligência, atenção, memória, percepção e muitos outros para identificar se existem outros problemas que podem estar interferindo na aprendizagem, até porque um dos critérios de diagnóstico é que a inteligência esteja preservada e esta é medida com testes de inteligência. O psicopedagogo poderá aplicar testes específicos da área prejudicada e investigar junto à família se existem outras situações que possam estar atrapalhando sua aprendizagem, bem como irá identificar os vínculos do sujeito com a aprendizagem e traçar um bom plano de intervenção.

Se você é pai ou mãe de uma criança que esteja passando por dificuldades,, não deixe de procurar um bom profissional capacitado e experiente para realizar esta avaliação e identificar os motivos das dificuldades.

Para marcação de consulta envie e-mail para simaiasampaio@gmail.com. Realizo avaliação neuropsicológica e psicopedagógica completa, avaliando o desempenho das funções cognitivas e investigação do desenvolvimento e desempenho junto à família e professores.

Referência Bibliográfica:

CARRAHER, Terezinha Nunes (Org.). Aprender Pensando. Petrópolis, Vozes, 2002.

GARCÍA, J. N. Manual de Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre, ArtMed, 1998.

JOSÉ, Elisabete da Assunção, Coelho, Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. São Paulo, Ática, 2002.

RISÉRIO, Taya Soledad. Definição dos transtornos de aprendizagem. Programa de (re) habilitação cognitiva e novas tecnologias da inteligência. 2003.http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=133

Publicado em 11/12/2010 Revisado em 09/07/2022

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Jogo em Pendrive para o ensino da matemática. Para todas as idades que tenham dificuldades na matemática básica

Autora: Simaia Sampaio

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